domingo, 7 de fevereiro de 2016


                                Alvor

 Acabara de chegar a uma praia, onde a humidade tinha o cheiro das ondas e da areia molhada.
Descalçou-se para sentir a areia ainda quente, caminhava muito devagar pela praia, seguia com a cabeça levantada olhando aquele horizonte traçado pelo mar, aproveita os últimos momentos daquele Pôr de Sol que torna a praia num manto brilhante que contrasta com o azul do céu.

No areal, avista uma esplanada construída em pinho norueguês protegido por uma cera castanha, que lhe dá o tom familiar de todos os anos, a mesma ganhava forma e contornos à medida que se aproximava.
Dos lados da construção abundavam dunas que iam mudando imperceptívelmente de forma graças aos grãos que o vento fazia deslocar de uns pontos para outros em cada dia que passava.
Sentou-se no alpendre, inspirou fundo e foi absorvida por aquele cenário de beleza rara, para ela nada tinha mudado, aquele lugar era como uma fortaleza  que continuava resistente ao sol tórrido e à humidade salina.
 Assistiu ao Pôr do Sol, com a luz ainda intensa a passar por entre algumas nuvens que se começavam a instalar.

domingo, 25 de novembro de 2012

 Manhã de outono


Uma igreja antiga e branca ergue-se ao longe na avenida, o local estava movimentado, pelos vários bancos de jardim estavam idosos e crianças com bibes coloridos e chapéus amarelos que saiam do teatro de mãos dadas.
Decide descer a avenida, uma das mais movimentadas da capital.
Os seus passos  espantavam os pombos que pacatamente por ali andavam nicando migalhas na calçada portuguesa. As poças cheias de folhas amarelecidas decoravam os largos passeios.
Pára junto a uma florista, as flores não tem grande aspeto mas cheiram bem .
 Compra um ramo de tulipas, apertadinhas por uma fita com florinhas amarelas.
As badaladas do meio dia fazem-se soar.

domingo, 9 de setembro de 2012

Dedicado a Antónia Medeiro,

Naquele final de tarde, as suas  mãos envelhecidas seguravam com firmeza um pequeno regador de esmalte.
 No meio da  pequena horta verdejante sobressaiam as suas vestes negras, os cabelos meio brancos, meio cinzentos estavam cobertos por um chapéu de palha que a protegia de um sol ainda quente.
Junto à horta ficava a casa baixinha igual a tantas outras branca com  porta  e janelas verdes .
Não se ouvia mais do que a água  do ribeiro e alguns pássaros que agilmente sobrevoavam aquele local tranquilo e perfumado a alecrim.  
As  mãos cheias de rugas e sinais de um tempo de lutas abrem a porta pelo postigo.
 Ao entrar naquela casa silenciosa, ajeita  cuidadosamente as toalhas de renda que servem de adorno para um amontoado de retratos a preto e branco contornados por molduras antigas, nesses retratos estão pedaços longínquos da sua vida.
Antónia pega numa caixa com linhas finas e coloridas.
Naquele final de tarde senta-se no poial fresco junto à   porta de casa. Ajeita os óculos e espreita  atentamente aquela aldeia pequenina com casas branquinhas  e chaminés fumegantes,  ao longe avista o colorido da mais bela das planícies alentejanas. 

Paula Maruta Marques

terça-feira, 24 de abril de 2012

Uns gatafunhos do meu livro

(...)Avança em direção ao terraço atraída pela calma, a brisa que vinha do rio estava agradavelmente fresca, ao longe as luzes fazem brilhar uma capital adormecida.
O rio está perto, refletindo nas suas águas o brilho das estrelas que pareciam estar em festa, naquele local, a sós com as suas duvidas vagueia nos pensamentos, podia sentir o silêncio da cidade,  costumava seguir o rasto dos aviões até se confundirem no céu.
Regressa para o interior, fecha as portadas de acesso ao terraço, acomoda-se à secretária, aquele era um dos seus locais preferidos, as  estantes estavam repletas de livros, as paredes compostas  por fotografias e desenhos que as crianças ali deixavam agarrados à parede, o chão em madeira clara suportava alguns caixotes ainda fechados e empilhados que nunca foram devidamente arrumados.
Junto a uma das portadas estava um sofá com uma manta quente, por vezes adormecia ali acordando de madrugada com os primeiros raios de sol a entrar pelas vidraças.
Nesses dias, aproveitava para sentir o calor do sol no rosto e apreciar a neblina que ainda restava  ao longe  no rio.(...)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Ao meu avô

Aos meus avós.

Era uma vez uma casa em forma de coração, branca e pequena, rodeada de eucaliptos e flores, essa casa tinha um lugar mágico cheio de raios de luz que entravam sem pedir licença  por uma janela redonda como as janelinhas dos navios.
Durante o dia a casa era invadida por crianças com olhares curiosos, sorrisos charmosos, que corriam com os cabelos soltos ao vento e bochechas vermelhas.
A casa  branca e pequena cheia de sol com cheiro a canela era contornada por dois carris cinzentos que o tempo não mudou.
As estações e os anos passaram pela casa que continua em forma de coração, branca, pequena, rodeada de eucaliptos e flores, as crianças, essas cresceram...

sábado, 21 de abril de 2012

Porque os crescidos também tropeçam...

Porque os crescidos também tropeçam, um dia tropecei na saudade, com o tombo  deixei cair a caixinha onde guardava as recordações.   Espalharam-se pela calçada  nomes,  retratos,  emoções,  músicas, cheiros,  sabores,  sorrisos,  palavras,  abracinhos e  afetos.
Levantei-me, sequei as lágrimas com a manga da camisola e resolvi arrumar tudo muito bem arrumadinho, com muito cuidado para não deixar nada para trás.
 Ficou tudo bem guardado!!!